Dial P for Popcorn: SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARVES (1937)

domingo, 21 de outubro de 2012

SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARVES (1937)


SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARVES ou
Uma Ode a uma das Vilãs mais fascinantes de sempre

Passaram mais de dez anos desde a última vez que eu vi "Snow White and the Seven Dwarves". Lembrava-me de me encantar quando era criança, sim, mas mesmo nessa altura o filme nunca deixou de me parecer muito feminino, muito virado para aquelas raparigas tontas e sonhadoras que tinham infinitos pensamentos do que fariam quando o seu príncipe encantado viesse para as levar. Penso que esta foi uma escolha propositada de Walt Disney para a sua primeira longa-metragem, um filme delicado e sensível, diferente dos filmes que se faziam na altura, mais sérios e preocupados com outros assuntos, um filme leve e empático que encantasse não só a sua geração mas as que a seguiram. Foi assim que em 1937 a Disney produziu "Snow White and the Seven Dwarves" e criou o protótipo de conto de fadas que iria perdurar nas maiores produções cinematográficas do estúdio e que chega até aos dias de hoje, se bem que de forma diferente, na última longa-metragem do estúdio, "Tangled". Em muitas maneiras, "Snow White" é o primordial filme animado, o clássico que define o legado que a Disney e Walt Disney em particular nos deixa.

Voltando à minha visualização do filme. Nunca pensei que fosse gostar mais do filme agora do que quando era mais novo, mas foi o que aconteceu. Não me recordava que fosse tão divertido e charmoso, não me lembrava do quão astuto, perspicaz e sarcástico o Zangado era, ou do quão formidável e melodramaticamente cómica a Rainha Má era. É camp (que traduzido para português dá teatral) no mais puro sentido do termo, mas é uma teatralidade que se aprecia num filme animado que surgiu em 1939. O que infelizmente não divergia das minhas memórias era o quão unidimensional e parolos os personagens Branca de Neve e Príncipe Encantado eram. Que aborrecidos.


O que vale é que o nosso investimento na narrativa principal do filme é extremamente recompensado pela vitalidade que a Rainha Má imprime na história (um excelente desempenho da actriz que lhe empresta a voz e dos desenhadores da Disney que, mesmo em plenos anos 30, já tinham bem noção dos estereótipos vilanescos a evitar e aqueles que deviam enfatizar; já com Maleficient, anos depois, também essa noção me passa como essencial para o sucesso da personagem.). A história de Branca de Neve todo o mundo já conhece, daí que não haja necessidade que eu entre em grandes detalhes.

Branca de Neve (Snow White) é uma bela princesa cujo pai e mãe perecem e ela fica aos cuidados da sua madrasta, a narcisista e egocêntrica Rainha Má (Evil Queen), cuja única preocupação é manter o seu estatuto como mais bela do reino - e a sua beleza é verdadeiramente impressionante. O que muitos não sabem é que a Rainha é também uma brilhante bruxa capaz dos feitiços mais vis e, quando o seu espelho mágico lhe indica que Branca de Neve - entretanto despromovida a mera criada pela malévola madrasta - irá roubar-lhe o título de mais bela, manda o seu Caçador (The Huntsman) assassiná-la e colectar para ela o seu coração como prova do serviço bem prestado. O Caçador, como narra a história, não o consegue fazer e permite que Branca de Neve fuja. Como todo o mundo sabe, a Rainha não desiste e toma medidas pelas suas próprias mãos. Conseguirá alguém salvar Branca de Neve? (olhem para mim a criar suspense) "Someday my prince will come", penso que é isto que precisam de saber. É um conto da fadas da Disney, não é? As coisas não podem acabar mal.

Apesar da história ser tão simples e vá, algo chata, Walt Disney e o seu fantástico grupo de animadores faz maravilhas para melhorar a experiência dos espectadores. Escolhas curiosas como dar nomes de características da personalidade de cada um dos anões, criar comédia física com animais e fazê-lo parecer naturalista e fácil e, acima de tudo, criando um mundo realista parecido com o nosso mas com um aspecto mais etéreo e principesco, onde tudo parece matéria de sonhos, muito bonito e reluzente e mimoso. Um gigante feito para 1937, uma vez mais.

Contudo, Walt Disney não parou aí. Não. Ele originou, dentro deste filme, duas das personagens mais coloridas, deliciosamente teatrais e exageradamente histriónicas que existem no universo Disney. Estou a falar, claro, da Rainha Má e do Zangado, como já tinha referido acima. Duas grandes divas, dois grandes egos, com um genial e crítico sentido de humor.

Like a boss.

A Rainha Má em particular é uma personagem fascinante. Uma entrega de falas e timing de respeito. Um rosto magnificente mas apropriadamente maléfico. Uma voz gélida, de cortar a respiração, poderosa e imperiosa. Adoro que a Disney se tenha permitido a criar uma personagem tão estereotipada e ao mesmo tempo tão indelevelmente real que podia existir no dia-a-dia de cada um de nós e a tenha colocado num filme para crianças. Meninos, vão conhecer gente na vossa vida assim, irremediavelmente má. E a Rainha Má é de facto má. E cruel. E ríspida. E um deleite de ver. Como uma profissional, ela garante um trabalho bem feito. Ela é cool e ela sabe-o.




As melhores caretas alguma vez postas em filme.

Momento de génio:
A poção. "An old hag's cackle. A scream of fright". A thunderbolt. To... mix it well".



Hilariante. O filme? Meh. Mas a Rainha Má? Sim, a sua magia está intocável.


Nota Final:
B+


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