Dial P for Popcorn: REALIZADORES: OTAC NA SLUZBENOM PUTU (1985)

terça-feira, 1 de maio de 2012

REALIZADORES: OTAC NA SLUZBENOM PUTU (1985)



Recentemente tive que tomar a difícil decisão de terminar com a periodicidade nas minhas crónicas. Algo que me custa, de facto, mas que se tornou impossível de conciliar com todo o trabalho da faculdade. Nenhuma das minhas três crónicas pessoais desaparecerá. Apenas deixarão de ter um espaço pré-definido para aqui aparecerem. Para a nova crónica da rubrica REALIZADORES, optei por falar-vos de um dos mais peculiares artistas europeus dos últimos anos: Emir Kusturica. Vencedor de duas Palmas de Ouro em Cannes, com prémios, nomeações e reconhecimento mundiais, é um dos mais importantes nomes do cinema actual, produzindo arte em quantidade e em qualidade muito próprias.


Escolhi a sua primeira Palma de Ouro para o representar. Com o título português de "O meu pai foi em viagem de negócios", este é um dramático relato da Jugoslávia no pós-Segunda Guerra Mundial, sob o domínio opressor do Comunismo soviético, onde o desafio à ordem se pagava de forma dura e cruel. Um ambiente cinzento, frio, quase medieval. Malik é a personagem central de um filme que envolve diversas personagens, vidas e problemas. Relata-nos paulatinamente uma história que se desenrola com vagar, onde tudo começa com a forçada, inesperada e inexplicável (aos olhos inocentes e infantis de uma criança) ausência do seu pai, um homem que trabalha arduamente para o seu partido, e que, sem problemas, vive uma vida dupla com as suas amantes. A sua mãe, uma mulher habituada a batalhar os problemas sozinha, aguentando as dificuldades da família e reservando respeito, carinho e admiração pelo seu marido, é a personagem mais tocante de todo o filme. A sua perseverança é admirável e encorajadora.

Esta ausência, a força motriz de todo o filme, é narrada ao espectador entre uma descolorada Sarajevo e uma inóspita vila para onde Malik e a família são obrigados a deslocar-se enquanto aguardam a libertação do seu pai, preso pela cobarde denúncia de uma das suas amantes. As emoções e as reflexões de uma criança são o condimento para uma história que nos recorda os tempos difíceis de um povo que demorou a encontrar a paz e a tranquilidade. O dedo subtil de Kusturica, nos diálogos, no humor súbtil, nas histórias, nas personagens, é indissociável de todo o filme. É o marcar de uma posição, distanciando-se dos demais e definindo um rumo próprio. Aclamado pela crítica, OTAC NA SLUZBENOM PUTU é o primeiro ponto alto de uma carreira que continua a rechear-se com sucessos, prémios e estatuetas. Quando ouvimos o nome de Kusturica, sabemos que, com ele, vem sempre agarrada a irreverência, a qualidade e a novidade. O que nos traz, tem sempre que ser recebido de braços abertos.

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