Dial P for Popcorn: THE HELP (2011)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

THE HELP (2011)




"You is kind. You is smart. You is important."



Quando penso que "THE HELP" podia ter sido o típico filme inspirador e emocional sobre a luta entre raças na véspera do movimento dos direitos civis, que se podia ter contentado em ser um filme inofensivo, bonito e optimista sobre a vida das criadas de raça negra no Mississipi dos anos 60, aquele género de filme que põe o género feminino todo de lágrima ao olho e de coração cheio e o público masculino à beira de um ataque de nervos, tal o sentimentalismo ao qual não consegue escapar, dou um suspiro de alívio. O livro de Kathryn Stockett está longe de ser perfeito (aliás, tendo em conta as reacções bastante díspares que obteve da crítica, nem sequer se pode dizer que o filme reúne consenso) e o pedido à Disney que apostasse no inexperiente Tate Taylor podia ter corrido terrivelmente mal. Felizmente, tudo se conjugou na perfeição para nos proporcionar um dos melhores filmes deste Verão, que agrada a todos, que faz pensar sem ser rigoroso na análise que faz à sociedade (nem Taylor deixa, cobrindo o filme de uma fotografia colorida, bonita e superficial que se sobrepõe à necessidade que poderíamos ter de abordar assuntos sérios, revelando uma falta de panache impressionante - mas que se percebe) e que, acima de tudo, nos presenteou com aquele que terá forçosamente de ser o melhor elenco do ano e uma das melhores interpretações femininas do ano.


Que o filme traga em si tanta faísca, tanto poder, tanta pujança deve-se em grande parte à cintilante interpretação de Viola Davis, que alcançou proeminência há três anos com um papel secundário em "Doubt" e que lhe deu a sua primeira nomeação para os Óscares da Academia. Com uma introdução daquelas e vinda esta de uma grande senhora do teatro, era de esperar que quando chegasse a sua hora de brilhar, Viola Davis entrasse com tudo. E assim foi. A sua Aibileen é a força motriz do filme, íntegra e impassiva, fazendo-nos ao mesmo tempo admirar a sua personagem e preocuparmo-nos com o seu destino. Aibileen Clark é uma ama e empregada doméstica de raça negra que já cuidou de mais de dezassete crianças de famílias brancas mas que tragicamente ainda não superou a perda do seu próprio - e único - filho. A sua vida nunca mais é a mesma quando ela aceita o desafio de Eugenia "Skeeter" Phelan (Emma Stone, a emprestar autenticidade e cor a uma personagem algo banal e estereotipada) - uma recém-graduada de Ole Miss que pretende deixar a sua marca no mundo do jornalismo e que não compreende os preconceitos dos da sua espécie para com as mulheres que de facto os criaram - de relatar o seu dia-a-dia enquanto criada das famílias brancas de Jackson, Mississipi. A ela se junta a sua melhor amiga e confidente Minny Jackson (a revelação, Octavia Spencer) que, no desespero do desemprego após confrontar a sua patroa Hilly Holbrook (uma firme e cruel Bryce Dallas Howard), vê a esperança corresponder-lhe ao arranjar trabalho junto de Celia Foote (uma incandescente e hilariante - mas de coração limpo - Jessica Chastain), uma bombástica loura que foi rejeitada, algo inexplicavelmente, pela restante alta sociedade. A estas mulheres se juntam ainda Sissy Spacek, Allison Janney e Cicely Tyson em papéis menores mas todos importantes no desenrolar da história - o filme é especialmente sagaz em conferir vitalidade e frescura a todas estas mulheres, de modo a que nenhuma acaba por parecer uma caricatura barata.


Embora a interpretação de Viola Davis não nos encha de gargalhadas como cada vez que a igualmente genial Octavia Spencer abre a boca, é-lhe permitido aqui "abrir o livro", pese a expressão: histérica, calma, temerosa, divertida, irada, ela percorre toda a palete de emoções e transforma a história de Aibileen e da sua amizade com Minny e Skeeter em algo mais, como se a sua vida e o relato de Aibileen por vezes se fundissem e se tornasse difícil compreender se o que Davis nos deixava antever das suas expressões, da sua luminosa face, das palavras que pronunciava é fruto da profundidade da sua caracterização ou são mesmo resultado das mágoas bem reais que Davis conheceu quando era mais nova.


Um retrato íntimo, caloroso, empático e emotivo de uma mulher demasiado destemida para o seu tempo, uma mulher de coração cheio de alma e amor, trazida à vida por uma actriz que é uma verdadeira força da natureza, ladeada por um elenco de imenso talento e qualidade do qual se destaca a tremendamente versátil Jessica Chastain (que está a ter um 2011 épico) e a extraordinária comediante que é Octavia Spencer, que rouba todas as cenas em que surge, "THE HELP" não procura fazer-nos pensar nem busca culpados ou vítimas. Só se preocupa em contar a verdade. Um filme longe de ser perfeito, ainda assim merece ser visualizado, mais não seja pela imagem valente e corajosa que projecta de mulheres que mesmo subjugadas nos mostram que lá por não terem nascido da raça certa não quer dizer que a sua dignidade não seja igualmente importante. 
Nota Final:
B/B+

Informação Adicional:
Realização: Tate Taylor
Argumento: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard, Allison Janney, Sissy Spacek, Cicely Tyson, Ahna O'Reilly
Banda Sonora: Thomas Newman
Fotografia: Stephen Goldblatt
Ano: 2011


Sem comentários: