Dial P for Popcorn: SANGUE DO MEU SANGUE (2011)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

SANGUE DO MEU SANGUE (2011)





Não saí da sala de cinema rendido. Saí satisfeito, contente pelo investimento num bilhete de cinema (cada vez mais caro!) para um filme português, mas não saí fascinado e extasiado como a grande maioria dos críticos de cinema em Portugal. No entanto, percebo-os. Sangue do Meu Sangue será, muito provavelmente, o melhor filme português dos últimos 50 anos e, seguramente, um dos melhores momentos da nossa (infezlimente, paupérrima) indústria cinematográfica. Se existisse, no nosso blogue, uma nota exclusiva para filmes portugueses, não teria dúvidas em lhe atribuir o valor mais alto.


Como já disse, Sangue do Meu Sangue é um bom filme. Começo por vos falar de Rita Blanco, o melhor entre o melhor. Uma interpretação arrebatadora, uma prova do enorme valor como actriz e mulher. Sem ela, sem a sua interpretação, sem a sua entrega à história, certamente Sangue do Meu Sangue passaria ao lado de muito boa gente. Mas há mais interpretações que merecem o meu destaque. Anabela Moreira, no papel de tia solteirona e abandonada, a representar o triste fim de uma mulher que encalha num beco sem saída e perde a esperança de ser feliz, e ainda Nuno Lopes (o herdeiro natural do trono que actualmente Miguel Guilherme ocupa como melhor actor português dos últimos anos) vive a personagem de um gangster e comprova que é impossível representar mal.

Mas Sangue do Meu Sangue tem mais. Tem um dedo tão marcante de João Canijo, que o torna diferente, que o torna mais especial. Tem as conversas paralelas. Tem uma câmara que se movimenta dentro das cenas como se do próprio espectador se tratasse, uma câmara que permite viver o ambiente da família que faz a história deste filme. E, por fim, Sangue do Meu Sangue, retrata aquilo que é o Portugal dos nossos dias. O Portugal da crise económica, familiar e amorosa. O Portugal que vive das migalhas, que alimenta sonhos de um amanhã melhor e que tenta, a todo o custo, sair do buraco em que foi enfiado.


O que gostei menos em Sangue do Meu Sangue? Começo por esclarecer que adorei os diálogos e as personagens. Foi uma criação inteligente, não só da parte de Canijo como de todo o elenco (que participou activamente na criação do argumento). No entanto, achei (pessoalmente) uma história demasiado previsível para poder classificar o seu argumento de Brilhante. A história deste filme já foi contada de muitas formas (algumas vezes melhor, muitas delas pior) e acaba por não trazer nada de realmente novo e diferente àquilo que é o cinema. Pelo menos o cinema internacional, porque em Portugal é claro que se demarca e se distingue (por uma grande margem) de quase tudo o que se tem feito nos últimos anos. Mas sabe a pouco. Sangue do Meu Sangue ficou muito perto de ser um filme estupendo e se posicionar lado a lado com os melhores filmes de lá de fora. Olhando-o como um crítico Português, acho que Sangue do Meu Sangue é um marco. Olhando-o como um crítico de estrangeiro, acho Sangue do Meu Sangue um bom e interessante filme.

Se merecesse que o espectador o veja no cinema e ajude João Canijo a continuar a fazer bom cinema? Totalmente. Um conselho: Aproveite para investir o seu orçamento cinematográfico do mês de Outubro neste filme. Ganha você, ganha João Canijo e ganha o Cinema Português. Desta vez vale bem a pena.


Nota Final:
B+


Trailer:





Informação Adicional:

Realização:
João Canijo
Argumento:
João Canijo e Elenco
Ano: 2011
Duração:
140 minutos

3 comentários:

Rafael Prata disse...

Gostei da sua crítica, porque visa ser objectiva e realça tudo o que retive como essencial do mérito deste «filme colectivo» de João Canijo.
Não acompanho a sua tónica negativa em relação à história. O incesto não é mais previsível nas duas assoalhadas do Bairro do Padre Cruz, do que no Ramalhete de Os Maias, de Eça de Queiroz.
Vimos cinema de superior qualidade, da cinematografia inédita pela sua ousadia de planos, a um som estereofónico em que seguimos três histórias paralelas, da novela da TVI ao futebol em directo, do vómito do bêbedo (off camera) ao som do vídeo porno (em fundo). Isto não se consegue só porque se usa material do bom; isto não se aguenta 140 minutos se a história, os personagens e a beleza da imagem não nos agarrassem bem o fundo da alma.
Que ninguém saia da sala antes do fim dos créditos finais. João Canijo dá-nos o último soco no estômago: a paisagem desumana duma cidade claustrofóbica - que afinal Abril não eliminou.
Como não conheço o sistema de votação, utilizo o «rating» da Moody's: AA+

Sam disse...

Esta crítica mereceu destaque na rubrica «A "Polémica" do Mês» do Keyzer Soze's Place, disponível aqui: http://sozekeyser.blogspot.com/2011/10/polemica-do-mes-5.html

Cumps cinéfilos!

Jorge Rodrigues disse...

SAMUEL -- Obrigado!

RAFAEL -- Penso que ressalva aí vários pontos muito pertinentes que gostava de ver o Samuel responder.

Cumprimentos,

Jorge Rodrigues