Dial P for Popcorn: ONE DAY (2011)

domingo, 16 de outubro de 2011

ONE DAY (2011)



"Whatever happens tomorrow, we'll have today. I'll always remember it."

Não é difícil explicar ao espectador comum sobre que género se debruça o novo filme de Lone Scherfig, que muito mostrou com o seu primeiro filme, o espectacular "An Education". Um híbrido entre as comédias românticas modernas e os clássicos dos anos 50 e 60, com a adição de sotaques britânicos, "ONE DAY", baseado no livro com o mesmo nome de David Nicholls e por ele adaptado para cinema, não evita que as comparações com o filme anterior de Scherfig e em particular as expectativas relativamente altas que o brilhantismo da obra literária adivinhava nos deixem ficar desapontados.


"ONE DAY" abre a 15 de Julho de 1988 em Edimburgo e mostra-nos como se conhecem, pela primeira vez, a idealista e sonhadora Emma Morley (Anne Hathaway) e o divertido e prático Dexter Morgan (Jim Sturgess). Visitamos sempre esse dia, que é conhecido em Inglaterra como o St. Swithin's Day, no decurso de vinte anos para ver como as vidas de Emma e Dex se intersectam e decorrem, enquanto ambos se descobrem a eles mesmos e um ao outro. O primeiro grande problema que tenho com o filme - e com o livro - é só os podermos encontrar neste dia, todos os anos. Todos os grandes eventos da sua vida - infinitamente mais interessantes do que o que nos é oferecido pelo filme em si - passam fora do ecrã e com isso perdemos muito do pano de fundo da vida destes dois personagens. Além disso, não parece minimamente estranho que todos os anos o 15 de Julho comece ou acabe com um evento de significativa importância? E pessoas entram e saem da sua vida de forma algo aleatória que, apesar de conseguirmos entender o porquê do seu surgimento e desaparecimento, nos deixam um amargo de boca de não sabermos a história toda e muitas perguntas por responder a que o filme parece tentar fugir. Entre estas pequenas personagens secundárias, ressalvo Allison (Patricia Clarkson), mãe de Dexter, luminosa e enternecedora nos breves minutos que surge em cena.
Anne Hathaway acaba por arruinar o que era uma personagem perfeitamente acessível no livro. A Emma Morley de Hathaway passa de esperta a irritante, de irónica a aborrecida e de teimosa a amuada. É difícil aceitar que Dexter consiga sequer suportá-la, quanto mais ser amigo dela no início. Nem vamos falar do sotaque que tem mais variações que as cores do arco-íris. Já Jim Sturgess faz o que pode com um personagem que já era horroroso no livro. Devo dizer que fiquei bastante impressionado com a profundidade emocional que ele conseguiu retirar de um personagem oco e vazio de conteúdo tal como estava escrito, que é mau e desrespeitoso - um verdadeiro cabrão na essência da palavra - para todos com que contacta.



Penso que parte do problema de "ONE DAY" é querer levar-se muito a sério, tendo-se como um filme definidor de toda uma geração, como um filme que vem revolucionar a estrutura pálida das comédias românticas de hoje. Nada disso. O engenhoso sistema de só mostrar um dia em cada ano é divertido no início mas facilmente cansa e deixa-nos ver as suas falhas. O romance, além de óbvio e inevitável - problema patológico muito comum aos romances de hoje - parece ser adiado para lá do que é razoável. E uma realizadora tão competente como Scherfig e um escritor com talento como Nicholls não podem ser tão amadores ao ponto de como resultado final terem um filme repartido em duas partes imensamente desequilibradas. A primeira parte é praticamente insuportável. A segunda parte é agridoce e melíflua demais. Claro que a transformação de Dex tem tudo a ver com esta disparidade mas ainda assim a primeira parte do filme devia conseguir muito mais.


Talvez também o problema resida no facto de eu não ser o público-alvo deste tipo de filmes. Não tenho dúvidas que encantou e satisfez o muito público feminino que se deslocou aos cinemas. Agora eu preciso de mais. Mais substância e menos pretensiosismo. Ainda assim, admito que para o que habitualmente a comédia romântica nos oferece, "One Day" sempre tem estilo e frescura, uma banda sonora lindíssima de Rachel Portman que nos transporta para outro mundo e uma história de amor que sempre dá para nos fazer sonhar. Se não tivermos amanhã, ao menos tivemos o dia de hoje. E que diferença, às vezes, um dia faz. Que o digam Emma e Dex.

Nota Final:
B-/C+

Informação Adicional:
Elenco: Anne Hathaway, Jim Sturgess, Patricia Clarkson, Rafe Spall, Romola Garai, Ken Stott
Realização: Lone Scherfig
Argumento: David Nicholls
Fotografia: Benôit Delhomme
Banda Sonora: Rachel Portman
Ano: 2011

Trailer:




2 comentários:

Joana Vaz disse...

Concordo quando dizes que o filme tem como público o feminino. E tenho muita pena que o filme não tenha conseguido a profundidade do livro, pelo qual me tinha apaixonado..:)

No entanto existiram alguns momentos que me arrepiaram na mesma, muito graças à fabulosa e melancólica banda sonora. E a frase final - "Whatever happens tomorrow, we'll have today. I'll always remember it." - fica na memória e faz-nos reflectir sobre a nossa própria história durante algumas horas...

Quanto ao elenco, eu gosto muito da Anne Hathaway, mas realmente ela não esteve aqui no seu melhor.

"One day" não é um brilhante filme, longe disso, mas conta uma história que acaba por sensibilizar quase toda a gente.;)

Jorge Rodrigues disse...

JOANA -- Lamento não ter apreciado mais o filme, mas como tu sabes tinha grandes expectativas porque gosto muito do livro que, mesmo com as suas falhas, é uma leitura muito aprazível.

Cumprimentos,

Jorge Rodrigues